domingo, 27 de junho de 2010

Neo-Ateísmo, Um Delírio - Neo-ateísmo na imprensa esportiva: a fúria de Juca Kfouri

 Recentemente, a Associação Dinamarquesa de Futebol divulgou seus protestos com o fato de jogadores da seleção brasileira terem comemorado um título na África do Sul utilizando-se de manifestações religiosas. Segue a citação abaixo, retirada de uma notícia da Agência Estado, publicada em Julho deste ano:

“A religião não tem lugar no futebol”, afirmou Jim Stjerne Hansen, diretor da Associação Dinamarquesa. Para ele, a oração promovida pelos brasileiros em campo foi “exagerada”. “Misturar religião e esporte daquela maneira foi quase criar um evento religioso em si. Da mesma forma que não podemos deixar a política entrar no futebol, a religião também precisa ficar fora”, disse o dirigente ao jornal Politiken, da Dinamarca. À Agência Estado, a entidade confirmou que espera que a Fifa tome “providências” e que busca apoio de outras associações.

Notícia que não me surpreende, diga-se, de passagem, pois a Dinamarca é um país conhecido por sua alta taxa de ateísmo. Talvez tenha uma grande porcentagem de neo-ateus também. Só isso explica a atitude de Jim Stjerne Hansen.

E não é que eu estava certo em ter citado a menina Regan (imagem acima) como influência para essa nova variação de neo-ateísmo? Essa variação se baseia em demonstrar ojeriza aos símbolos religiosos. Quem assistiu o filme O Exorcista (ótimo filme, por sinal) deve se lembrar de como a menina se contorcia na cama quando o padre Merrin jogava água benta em cima dela. O comportamento de Jim Stjerne Hansen me lembra a garota do filme.

A comparação de religião com política também foi infeliz ao extremo. A política pode até influenciar a eleição de dirigentes que vão comandar a vida de todas as pessoas em uma nação. Na religião, não há isso, pois a prática religiosa é opcional. Dessa forma, o argumento de que “se a Política não entra no futebol, a Religião também não pode” perde todo o valor.

E Juca Kfouri perdeu uma oportunidade de ficar calado e saiu pregando o seu neo-ateísmo ao endossar o Jim Stjerne Hansen.

Em seu texto “Deixem Jesus em paz”, publicado também em Julho deste ano, ele só faltou gritar “tirem esses crucifixos daqui”. Será que ele também estrebucharia se jogassem água benta nele? Não duvido.

Nesse texto, Kfouri começa a ladainha:

Está ficando a cada dia mais insuportável o proselitismo religioso que invadiu o futebol brasileiro.

Pois é, a menina Regan talvez diria isso também. Detalhe que eu sou teísta, católico, e se eu vir o símbolo dos ateus (aquela correntinha com a palavra “A”) não me incomodarei nem um pouco. Se eu vir o símbolo judaico, isso não me incomoda nenhum pouco. Estranho que qualquer manifestação religiosa incomode tanto o Juca Kfouri (friso a palavra dele: “insuportável”).

A seguir, ele tenta contar historinhas da infância dele:

MEU PAI, na primeira vez em que me ouviu dizer que eu era ateu, me disse para mudar o discurso e dizer que eu era agnóstico: “Você não tem cultura para se dizer ateu”, sentenciou.

Pelo que será mostrado aqui, Juca Kfouri não tem cultura para ser ateu (pois, como neo-ateu, é um péssimo representante do ateísmo) ou teísta.

Ele prossegue:

De fato, o velho tinha razão, motivo pelo qual, ele mesmo, incomparavelmente mais culto, se dissesse agnóstico, embora fosse ateu.

Erro grosseiro! Agnosticismo e ateísmo não são mutuamente auto excludentes. Eu mesmo sou agnóstico e teísta. Por causa do meu agnosticismo, eu não posso tentar impor a ninguém que acredite em Deus. Logo, eu uso a filosofia do “você acredita? ok. não acredita? ok também”. Mesmo assim, eu acredito em Deus, o que me torna um teísta. Logo, Kfouri afirmar “se dissesse agnostico, embora fosse ateu” demonstra que ele não conhece nem as definições de ateísmo e nem de agnosticismo. Agnosticismo fala apenas em relação à possibilidade ou não do conhecimento absoluto, e assume que não é possível obter esse conhecimento. Já o ateu é apenas alguém que não acredita em Deus ou deuses. Achar que alguém deve optar entre agnosticismo e ateísmo é no mínimo falta de cultura.

Falta de cultura que também fica evidente abaixo:

E negar o papel de resistência e de vanguarda de setores religiosos durante a ditadura brasileira equivaleria a um crime de falso testemunho, o que me levou, à época, a andar próximo da Igreja, sem deixar de fazer pequenas provocações, com todo respeito. Respeito que preservo, apesar de, e com o perdão por tamanha digressão, me pareça pecado usar o nome em vão de quem nada tem a ver com futebol, coisa que, se bem me lembro de minhas aulas de catecismo, está no segundo mandamento das leis de Deus. E como o santo nome anda sendo usado em vão por jogadores da seleção brasileira, de Kaká ao capitão Lúcio, passando por pretendentes a ela, como o goleiro Fábio, do Cruzeiro, e chegando aos apenas chatos, como Roberto Brum.

É fato: Juca Kfouri não sabe o que significa a expressão “usar o nome de Deus em vão”. Lição de graça para ele: Usar o nome de Deus em vão é quando se invoca a Deus sem razão, ou quando se usa o nome dele em coisas vãs. Exemplo seriam discussões, brincadeiras, e promessas que não se pretende cumprir. Mas, caso qualquer um dos atletas realmente acredite em Deus piamente, e idolatrem a Jesus, eles não são passíveis da acusação de “usar o nome de Deus em vão”. E como Juca Kfouri citou as aulas de catecismo dele, das duas uma: ou o(a) professor(a) não o ensinou direito, ou então o ensinamento foi válido, mas ele que não aprendeu.

Abaixo ele tenta regulamentar comportamentos:

Ninguém, rigorosamente ninguém, mesmo que seja evangélico, protestante, católico, muçulmano, judeu, budista ou o que for, deveria fazer merchan religioso em jogos de futebol nem usar camisetas de propaganda demagógicas e até em inglês, além de repetir ameaças sobre o fogo eterno e baboseiras semelhantes, como as da enlouquecida pastora casada com Kaká, uma mocinha fanática, fundamentalista ou esperta demais para tentar nos convencer que foi Deus quem pôs dinheiro no Real Madrid para contratar seu jovem marido em plena crise mundial. Ora, há limites para tudo.

Talvez Juca Kfouri se esquece de que vestiu a camisa das Diretas Já quando participou dessa campanha. É, Juca Kfouri, isso se chama vestir a camisa de algo em que se acredita. Surpreendentemente, o jornalista deveria ser capaz de entender esse tipo de atitude, pois ele já a praticou (mesmo que não fosse por motivos religiosos).

Além do mais, a expressão “merchan religioso” é no mínimo falsa. “Merchan” ocorreria se os jogadores estivessem recebendo dinheiro para isso, mas isso nem sempre é o caso.

O mais engraçado é ver Kfouri perder as estribeiras, e partir para ofensas à mulher de Kaká. Termo usado pelo jornalista: “enlouquecida pastora”. Mas quem disse para o Kfouri que ele tem moral ou capacidade para julgar o comportamento da esposa do Kaká? Quem disse para o Kfouri que ele tem o mínimo talento para entender a metáfora por trás da declaração da esposa de Kaká ao falar que Deus pôs dinheiro no Real Madrid em tempos de crise? Em resumo, no momento em que Juca Kfouri perdeu a sua classe (por ofender a esposa de Kaká) foi onde ele cometeu os erros mais primários.

Daí para frente é só baixaria, como por exemplo:

É um tal de jogador comemorar gol olhando e apontando para o céu como se tivesse alguém lá em cima responsável pela façanha, um despropósito, por exemplo, com os goleiros evangélicos, que deveriam olhar também para o alto e fazer um gesto obsceno a cada gol que levassem de seus irmãos…

Se ele tivesse o mínimo entendimento a respeito do que significa religião e a fé, saberia que quando um jogador comemora um gol apontando para o céu, ele não está querendo dizer que Deus fez o gol para ele. Na verdade, o religioso apenas relembra de seu alinhamento com Deus, e visualiza isso como a sua fé naquele ato. Não ter percebido isso foi um erro patético de Kfouri.

Para piorar, ele diz que os goleiros evangélicos deveriam olhar também para o alto e fazer um gesto obsceno a cada gol que levassem. Bobagem. Religiosos não agiriam assim. Mas seria compreensível que um goleiro apontasse para os céus quando fizesse uma grande defesa. Dica ao Juca: aprenda a fazer analogias.

E ele chega até a encarnar Mao Tse Tung:

Que cada um faça o que bem entender de suas crenças nos locais apropriados para tal, mas não queiram impingi-las nossas goelas abaixo, porque fazê-lo é uma invasão inadmissível e irritante.

Na China, a coisa começou assim. O governo proibia a manifestação pública de religião, depois dizia que as manifestações só podiam ocorrer dentro das residências, escondidos dos olhos dos ateus chineses (maioria da população). Hoje em dia, cristãos são mortos pelo governo ateu chinês, pelo simples fato de rezarem.

E sempre com a desculpinha de que “religião tem que ser praticada em lugares específicos”. Aliás, que comportamento carrancudo, hein Kfouri? Parece aquelas velhas beatas que se incomodam quando um casal se beija em público. A única diferença é que Juca odeia a religião…

No final, depois de tanta besteira escrita por Juca, só lhe resta o desabafo:

Não mesmo é à toa que Deus prefere os ateus…

Aqui Juca encarna o pessoal das torcidas organizadas. Sabe como são? Aquele tipo de pessoa inculta, que não fala coisa com coisa, mas sai gritando frases nonsense. Algo como “Deus preferi nóis, ô manu…”. Pura molecagem.

Poucos dias depois, Kfouri escreveu um novo texto, entitulado “Jesus é uma farsa!”. Segundo ele:

Como reagiriam aqueles que defendem o merchan religioso nos gramados se alguém vestisse a camiseta acima?

Se reagissem negativamente, seria no mínimo justo, pois uma camisa escrita “Jesus é meu pastor” é uma manifestação do que é valor para o religioso. Já a frase “Jesus é uma farsa!” é um ataque ao valor do outro. É isso que diferencia uma camisa com a mensagem “Eu amo a Mariana” de uma na qual está escrita “Mariana é uma cadela”. [N.E. - O texto Ateus e o Eterno olhar de pidão do lado de fora aborda isso em mais detalhes]

Agora, já que Juca Kfouri se incomoda tanto com os símbolos e manifestações religiosas, que tal ele sugerir uma manifestação para os jogadores neo-ateus?

Uma sugestão é colocarem uma miniatura dessa boneca da Regan (a foto deste artigo) em uma correntinha. Outra é vestir camisas do Drácula e da Regan, que, notoriamente, fogem de crucifixos.

Mas a melhor sugestão é que Juca Kfouri procure ajuda psicológica. Pois se ele não consegue “suportar” os símbolos religiosos, é sinal de que talvez ele tenha algum trauma a ser resolvido. Até porque nenhum símbolo religioso foi feito para ofender a quem quer que seja. Quem sabe assim ele não aprende o valor de coisas como liberdade de expressão.

Eu mesmo, já viajei para projetos no exterior, com culturas diferentes, e com símbolos religiosos muito diferentes dos meus. E não me incomodaram nem um pouco. E os projetos sempre foram um sucesso. Pois é, as coisas ficam mais fáceis quando se consegue conviver em um mundo multicultural.

P.S.: Eu não sou evangélico, não tenho procuração para defender os evangélicos e discordo de algumas atitudes de algumas igrejas evangélicas. Mas defendo o direito dos evangélicos se expressarem.

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